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Batuques, Bordados & Ofícios

Baque Mulher Maringá e Roda do Encanto
Maracatu de Baque Virado

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Vivenciar o maracatu

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“Vivenciar o maracatu é estar disposta a aprender com quem veio antes e a construir, na medida do que a gente foi privilegiado, na nossa geração.”

Quem generosamente nos ensina o que é maracatu é Laís Fialho: mulher de axé que integra a liderança do Baque Mulher – Filial Maringá, integrante da Roda do Encanto, produtora cultural e doutoranda em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Consolidado em Pernambuco, o maracatu de baque virado é uma expressão afro-religiosa e uma prática comunitária que se organiza a partir da crença do candomblé e da Jurema Sagrada. “Algumas nações têm mais referências da Jurema e outras menos”, explica Laís.

Do Estado de origem, o maracatu se difundiu para outros locais do Brasil — incluindo Maringá/PR — e também do mundo.

O cortejo

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O cortejo real do maracatu é constituído por vários elementos de origem africana, índigena e europeia e originou-se a partir da coroação da rainha e do rei do Congo, prática instituída no Brasil colonial.

Entre os diversos personagens que integram a corte, estão o rei e a rainha, comumente representados pelas lideranças religiosas da comunidade; o caboclo, príncipes, princesas, vassalos e pessoas escravizadas. Há também a dama do passo, responsável por levar a Calunga, representada por uma boneca de cera ou pano, no caso da Jurema.

Na Nação Encanto do Pina, por exemplo, há alas que homenageiam a Jurema Sagrada. Além do cortejo, composto por membros da comunidade representando os personagens, há a presença da bateria.

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A base e o coração

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A musicalidade varia de maracatu pra maracatu. Na Nação Encanto do Pina e no Baque Mulher, os instrumentos utilizados pela bateria são a alfaia, tambor, agbê, gonguê, caixa, timbal e mineiro.

Dizem que alguns dos instrumentos constituem a cozinha, que é aquilo que é a base, que não para. São de timbre mais agudo. E a alfaia, a gente considera que é o coração do baque. Temos esse ritmo marcado nos instrumentos de cozinha e o baque virado ali nas alfaias fazendo o que a gente chama de loas, que são as toadas, as músicas do maracatu.

Os baques mudam de loa para loa — martelo, a loanda, o baque de parada, a compensação etc — compõem o repertório. Todas foram sistematizadas pela Mestra Joana Cavalcante, liderança da Nação do Maracatu Encanto do Pina e fundadora do Baque Mulher.

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O maracatu de baque virado está sempre associado às manifestações culturais pernambucanas, embora os grupos venham espalhando-se por vários outros estados do Brasil.

Os grupos filiais, presentes em várias cidades, utilizam a mesma linguagem musical e tocam o mesmo repertório Brasil afora, incluindo em Maringá-PR.

Laís fala sobre a importância das maracatuzeiras e maracatuzeiros valorizarem as nações e grupos de Pernambuco. “O maracatu de baque virado se consolidou e se difundiu a partir de Pernambuco. Então, é muito importante respeitar essa tradição, que foi organizada com muita escassez, dificuldade, em meio ao racismo estrutural e epistêmico, que invisibiliza essas comunidades e práticas de resistência.”

O Maracatu Nação foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil em dezembro de 2014.

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A rua, o sagrado e os tambores

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Em Maringá, a criação e articulação da ‘Roda do Encanto’ — grupo filial da Nação Encanto do Pina — e do Baque Mulher Maringá aconteceu entre 2015 e 2016. Mas, anos antes, um grupo de mulheres da cidade já visitava a comunidade do Bode (Recife – PE) regularmente, que é o território onde o maracatu que reproduzem está. “Fomos criando vínculos afetivos e religiosos com essas pessoas, com essa comunidade, com essa história e com esse maracatu.”

A consolidação da filial maringaense veio a partir da busca por um espaço para aprender e tocar maracatu, mantendo o vínculo com “a rua, o sagrado e os tambores”. A articulação inicial envolveu uma série de campanhas financeiras, como rifas, bingos, feijoadas, que viabilizam a compra de tambores e outros instrumentos.

O grupo foi à rua pela primeira vez em 2017, marcando presença no ato ‘Todas Contra 18’. “Desde então, seguem atuando ativamente junto aos movimentos sociais, culturais e de terreiros, sempre levando o maracatu de baque virado e fortalecendo outras manifestações culturais e de resistência na cidade”.

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Pra mim, vivenciar o maracatu é quase tudo na vida. É respirar, é sentir o cheiro, é comer uma comida, é abraçar, é pedir bença, é jogar alfazema no meio da tocada. Enfim, é muita coisa vivenciar o maracatu, não é só tocar ali, na hora que monta o baque. É todo um preparo, um modo de falar, um modo de comer, um modo de respeitar os mais velhos, as crianças, a natureza. Vivenciar o maracatu pra mim é vivenciar o candomblé, a hierarquia, uma busca. É aceitar coisas que não se compreende. É buscar entender o máximo de coisas que eu posso. Vivenciar o maracatu é estar disposta a aprender com quem veio antes e a construir, na medida do que a gente foi privilegiado na nossa geração.

– Laís Fialho

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A atuação local dos grupos ‘Roda do Encanto’ e ‘Baque Mulher Maringá’ tem respaldo nas tradições religiosas e culturais da matriz. É a resistência dos grupos pernambucanos que permite que filiais e suas ações multipliquem-se Brasil adentro, portanto, Laís reforça que “a relação dos grupos tem que ser de muito carinho, cuidado, zelo e respeito às nações”.

Durante o ano, os grupos realizam inúmeras atividades abertas ao público, como apresentações e oficinas de maracatu em espaços públicos; fazem palestras sobre maracatu, culturas populares e protagonismo feminino; promovem ações sociais para auxiliar comunidades; e atuam diretamente em movimentos culturais.

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Há alguns anos, o Baque Mulher Maringá promove o “Festival Obá Xirê”. Na edição de 2021, a temática do evento foi o protagonismo feminino na cultura afro-brasileira e os fundamentos das casas de axé em Maringá e região. Lideranças religiosas e culturais do ‘Encanto do Pina’ e ‘Baque Mulher’, de Recife-PE, estiveram presentes na cidade para realizar apresentações, oficinas e rodas de conversa junto aos grupos e à comunidade. As fotografias foram realizadas durante o evento.

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