Fazer dança
“Quando cheguei nessa escola, aqui em Maringá, perguntaram o que eu queria fazer. E eu disse: dança. A dança sempre fez parte da minha vida. Já nasci com esse prazer.” A frase é de Sueli Alves de Souza, criadora e coordenadora do Fogança, o primeiro grupo paranaense dedicado às manifestações folclóricas e populares das danças brasileiras, que atua com pesquisa, reprodução e difusão.
A folclorista é natural de Astorga-PR, mas morou no Rio de Janeiro e na Bahia. O retorno a Maringá deu-se pelo sonho de cursar o ensino superior: da graduação foi direto para a especialização e, em seguida, foi convidada para realizar um curso de dança. Depois, prestou concurso e lá ficou por 34 anos, tudo na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Além do trabalho na área da dança, Sueli também atua com teatro de bonecos no grupo Pau de Fita, que está com 45 anos e criou outros projetos, entre eles, Cerâmica e Núcleo de Teatro de Bonecos na UEM.
Nos mais de 30 anos de trajetória, muitas danças, cantos e tradições de várias regiões do Brasil compuseram o repertório do grupo, que ganhou o Brasil e o mundo. Foram centenas de apresentações em festivais nacionais e internacionais. “Tivemos momentos lindos no Festival de Olímpia (SP), em que fomos como representantes do estado do Paraná durante 28 anos e em encontros de universidades pelo Brasil inteiro.”
De Maringá para o mundo
A história do Fogança começou em 1986. Com a proximidade do Carnaval, Sueli de Souza Alves propôs a abertura de um curso de frevo, que despertou muito interesse e chegou a ter 320 alunas(os) por semestre.
O envolvimento era tanto que o grupo foi nascendo a partir do curso. Foi então que solicitou a saída do setor administrativo para integrar a extensão porque queria fazer arte.
A trajetória profissional de Sueli na Universidade Estadual de Maringá se confunde com a história do grupo: foram 34 anos de UEM e 32 anos de atuação no Fogança, ou seja, de pesquisa e contribuição para danças parafolclóricas brasileiras.
O grupo Fogança surgiu pela necessidade de se ter alguma manifestação de resgate e de alta afirmação da cultura do nosso povo. Nós somos brasileiros, mas a gente não gosta das nossas manifestações porque não nos ensinaram a gostar deste país lindo, maravilhoso. E isso estava sempre dentro de mim.
Os prêmios também fazem parte da história do grupo, que teve o reconhecimento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e ficou com o 2º lugar no Festival Internacional de Pirineus, realizado na França e na Espanha.
Fomos representando o Brasil. Eram 62 dias de festival, e quando chegamos em uma cidade lá na França, percebemos o quanto éramos pobres, financeiramente falando. Quando iam chamar os 5 primeiros classificados, falei: ‘Daqui eu não passei’. Mas nós ficamos em 2º lugar! Foi o momento mais emocionante. Sabe quando você tá nadando? Nós chegamos na praia!
Prazer, eu sou folclorista
Mencionamos acima que há menos pesquisas “até o momento” porque, embora vinculado à Universidade Estadual de Maringá, onde nasceu como projeto de pesquisa e extensão, o Fogança é um projeto que continua vivo, ainda que esteja sem atividades, devido à chegada da aposentadoria.
Para assumir o Fogança tinha que ser folclorista. E nós não temos. Você conhece alguém? Prazer, eu sou folclorista. Por notório saber. Prazer. As pessoas não sabem o que é ser folclorista. É você conhecer seu país, representar, divulgar, amar a sua cultura e seu povo.
Sueli Alves de Souza, fundadora e coordenadora do Fogança, se prepara para publicar um livro contando a trajetória dos 32 anos do grupo. “Eu tenho uma foto 3×4 de cada integrante que passou pelo grupo, tenho todos os convites, mais de 3 mil convites tipos-ofício, mais de 5 mil fotos. Guardei tudo, porque eu vou publicar, vou contar essa história. Fiz tudo por prazer, por isso Fogança deu sorte. Só que eu não me preparei para um dia ter que parar e, de repente, tinha que parar”.